Um investigador da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) desenvolveu um modelo para “ajudar profissionais de saúde a cuidarem melhor de adolescentes com doença oncológica”, anunciou ontem fonte daquele estabelecimento de ensino.
Criada por Manuel Henriques Gameiro, especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e do Adolescente e professor daquela escola, a teoria torna “acessível um conjunto de elementos que facilitam a interpretação compreensiva dos adolescentes com cancro hematológico e, por consequência, intervenções mais esclarecidas ao nível dos cuidados”, afirmou a mesma fonte.
O modelo teórico “compreensivo das experiências e processos adaptativos dos adolescentes com doença onco-hematológica durante o tratamento” deverá permitir a prestação de cuidados mais adequados aos doentes, prevê a ESEnfC numa nota enviada hoje à agência Lusa.
Fundamentada em dados que tiveram por base 27 testemunhos sobre as experiências de 23 adolescentes com leucemia ou linfoma, a teoria vai facilitar “uma maior compreensão empática dos adolescentes em situação e uma intervenção de cuidados mais esclarecida e efetiva, por parte dos enfermeiros, dos restantes profissionais envolvidos e, igualmente, dos pais”, acredita o investigador.
“Os testemunhos referem-se, sobretudo, às experiências vividas e aos processos de enfrentamento, ajustamento e adaptação à situação de doença e tratamentos”, referiu Manuel Gameiro.
“Estes processos são fundamentais para manter a esperança e a disposição para “continuar a lutar” durante o longo e penoso tempo de tratamento”, sublinhou o investigador, citado pela ESEnfC.
Cada adolescente experiencia a doença de modo distinto e desenvolve esforços de adaptação próprios e esta estratégia “pode ajudar a fazer previsões, não propriamente sobre a probabilidade estatística das ocorrências e situações”, mas sobre “o seu sentido e possibilidade humana”, sustentou o especialista que, contudo, crê ser necessário “ter em conta cada ser humano como indivíduo”, isto é, “não dispensa a sua escuta e a interpretação da sua narrativa”.
Há, segundo Manuel Gameiro, “três movimentos adaptativos fundamentais, complementares e interativos” a que os adolescentes recorrem: “Esforços de autorregulação e ajustamento à situação de doença”, “Esforços para promover e manter um estado de disposicional positivo” e “Esforços para lidar com situações referenciais de sofrimento”.
A amostra do estudo envolveu 23 adolescentes, com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos, 17 dos quais referenciados no Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Pediátrico de Coimbra.
A investigação de Manuel Gameiro conduziu à sua tese de doutoramento (“Processos e experiências de transição adaptativa dos adolescentes com doença onco-hematológica durante o tratamento”), defendida em outubro deste ano, na Universidade de Lisboa.
De acordo com a ESEnfC, atualmente, mais de 85% dos adolescentes com este tipo de cancros sobrevivem.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.