O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) defendeu a mobilização de todos para enfrentar as alterações climáticas, realçando a importância da sensibilização dos profissionais de saúde, setor que deve ser um exemplo na redução das emissões e do lixo.
A atuação tem de ser “a vários níveis e em simultâneo”, salientou Luis Campos, apontando a necessidade de medidas que diminuam o impacto da emissão de gases com efeito de estufa, e que "o setor da saúde seja um exemplo de compromisso com a proteção do ambiente". As declarações à Agência Lusa a propósito do Dia Mundial do Ambiente, que se assinala esta segunda-feira, data em que a SPMI recorda alguns conselhos para preservar a natureza e o clima.
“Temos de mobilizar toda a sociedade, não só o setor da saúde, mas todos os outros, para uma resposta mais eficaz perante a evolução das doenças [associadas à mudança do clima]”, para proteger as populações mais vulneráveis, que “já estão a ser afetadas por estas alterações” climáticas, afirmou.
As alterações climáticas têm consequências na saúde, principalmente nos grupos mais vulneráveis, como os idosos, as crianças, grávidas, pessoas incapacitadas, pessoas com debilidade económica, ou sem abrigo.
Luís Campos lembrou que em 2013 o tempo quente em Portugal “produziu um excesso de 1700 mortes e isso tem a ver com os efeitos diretos do calor”.
Com as mudanças do clima, “há aumento das doenças cardíacas, nomeadamente do acidente vascular cerebral (AVC) e da doença isquémica do coração, não só pelo aquecimento, mas também pela concentração de ozono”.
A lista de doenças referidas pelo especialista inclui as pulmonares devido à poluição atmosférica, como a doença pulmonar obstrutiva crónica e as alergias, que “estão a aumentar muito”.
Com o aumento da temperatura, as doenças infeciosas, transmitidas através de mosquitos, como a malária ou a febre dengue, começam a aparecer em áreas geográficas que ficam agora mais quentes.
Luís Campos refere ainda as doenças relacionadas com a qualidade da água, como a cólera, e com a fome e desnutrição, além de doenças mentais, provocadas pelas alterações como as migrações ou as mortes violentas resultado de catástrofes naturais.
Apesar de reconhecer que o tema já faz parte das preocupações da Direção Geral da Saúde e do Ministério da Saúde, e que “alguma coisa está a ser feita”, como a aprovação de investimento para os hospitais visando conseguir uma maior eficiência energética, para o especialista “muito ainda falta fazer”.
O especialista recordou ainda que, em Portugal, os hospitais são responsáveis por 11% do consumo de eletricidade e 18% do de gás natural e produzem 108 mil toneladas de resíduos.
"Cada médico, cada profissional de saúde, tem de ser um exemplo de adesão a comportamentos que diminuem os fatores que causam aquecimento global", defendeu Luís Campos.
Entre as opções que contribuem para reduzir os gases com efeito de estufa, principais responsáveis pelas alterações climáticas e consequentes fenómenos extremos (ondas de calor ou de frio, secas ou grandes quantidades de chuva em pouco tempo), está a escolha de deslocações a pé, de bicicleta ou transportes públicos e a poupança de água, assim como a redução do consumo de energia e do desperdício.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.