A infeciologista pediátrica do Hospital Dona Estefânia, Maria João Brito, defende, com base num estudo realizado na sua instituição hospitalar, que o novo coronavírus "não se transmite" como a gripe nas crianças e que tal pode ser "reconfortante" para a decisão de reabertura das escolas.
"Este vírus não se transmite da mesma forma que o vírus da gripe ou outros vírus respiratórios. Portanto, o encerramento das escolas que nos levou ao medo que se iniciasse a infeção a partir da criança para o adulto, que é o que acontece com a gripe, não parece realmente que seja o modelo que acontece com este vírus e isto pode ser reconfortante na decisão da reabertura das escolas", disse Maria João Brito, durante a reunião sobre a evolução da Covid-19 em Portugal, que juntou peritos, políticos e parceiros sociais ontem, no Porto.
Durante a sua intervenção, com o tema Covid-19 nas crianças, a infeciologista pediátrica salientou ainda que todas as crianças e jovens podem contrair a infeção, mas que a mesma se manifesta de "forma diferente nos grupos etários".
"Abrir infantários é uma coisa, abrir secundários é outra e abrir faculdades é outra. Portanto, nas crianças muito pequeninas, realmente, a taxa de transmissão parece menor", sublinhou Maria João Brito, acrescentando que a transmissão será diferente consoante a tipologia da escola.
A especialista, que apresentou um estudo com base nos dados das crianças com Covid-19 que passaram pelo Hospital Dona Estefânia (Centro Universitário Lisboa Central) – 285 no total – salientou que apesar do novo coronavírus ser "pouco frequente em pediatria", pode revelar-se, contudo, "potencialmente grave".
"A mortalidade é muito baixa", referiu Maria João Brito, acrescentando que das 285 crianças, 114 foram internadas e que dessas, 23% eram assintomáticas. Maria João Brito alertou ainda que a transmissão do SARS-CoV-2 na população pediátrica permanece "um enigma" e que, aliada às restantes infeções, poderá ser "um problema adicional".
"As outras infeções poderão ser neste inverno e com a abertura das escolas um problema adicional (...) Apesar do estado de emergência ter sido feito no início, 18 de março, 45% das crianças que internamos com SARS-CoV-2 tinham coinfeções", disse, alertando que com a entrada da gripe no próximo inverno "as crianças poderão transmitir a gripe na comunidade".
"Embora não seja uma surpresa o impacto deste distanciamento social entre as crianças é impressionante, o número de coinfeções diminuiu bastante, mas à medida em que as escolas abrirem e isto dependendo das taxas de infeção por covid-19, as infeções de outros vírus respiratórios e do SARS-CoV-2 poderá aumentar nas crianças", concluiu, lembrando da necessidade de se manterem as medidas de segurança e higiene.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.