Estudo estima que 13% da população portuguesa teria anticorpos contra o coronavírus da Covid-19 após a infeção natural, em março, percentagem que sobe para 17% quando incluídas as pessoas vacinadas.
O estudo “Painel Serológico Longitudinal Covid-19” analisou a presença de anticorpos para o SARS-CoV-2 em colheitas de sangue feitas entre 1 e 17 de março, em Portugal continental e ilhas, com uma amostra constituída por 2172 pessoas de várias idades e regiões, noticia a agência Lusa.
A amostra inclui 156 pessoas que foram vacinadas maioritariamente até ao fim de fevereiro e 264 que tinham revelado anticorpos contra o novo coronavírus num estudo serológico anterior, de setembro e outubro de 2020, conduzido pela mesma equipa.
O investigador e vice-diretor do Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes, Bruno Silva-Santos, disse que os dados indicam que "a vacinação é a única via em tempo útil para se atingir a imunidade de grupo", essencial para um regresso à normalidade.
Bruno Silva-Santos frisou que “sem a vacinação, é um processo demasiado lento”, uma vez que apenas 13% da população terá atingido a imunidade naturalmente, passado um ano sobre a pandemia.
O investigador admitiu que, caso o plano de vacinação decorra sem mais perturbações, reunindo "doses disponíveis" e uma "adesão normal das pessoas", a imunidade de grupo poderá ser alcançada em Portugal em setembro, com 75% da população protegida contra a Covid-19.
Tendo como ponto de partida a estimativa da população portuguesa, os resultados obtidos no estudo "permitem estimar em cerca de 1 milhão e 750 mil" pessoas "a população residente que teria anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 nos primeiros dias de março", sendo que "cerca de 400 mil terão adquirido os anticorpos através da vacina e 1 milhão e 350 mil por infeção natural".
Segundo o imunologista, é expectável que uma vacina confira proteção até um ano, uma vez que "os anticorpos são a primeira grande barreira contra a infeção ao neutralizarem o vírus nas células" e a segunda dose de uma vacina “maximiza a resposta imunitária”, sublinhando a importância da vacinação.
De acordo com o novo estudo, resultante de uma parceria entre o Instituto de Medicina Molecular, que coordena o trabalho científico, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos e o grupo Jerónimo Martins, que financia, dos 264 participantes que revelaram anticorpos contra a Covid-19, após a infeção, no estudo serológico anterior, 94% não perderam esses anticorpos passados seis meses.
O Painel Serológico Longitudinal Covid-19 apresenta-se como um "retrato da segunda e terceira vagas da covid-19" em Portugal através da "proporção da população que, mediante avaliação serológica, desenvolveu anticorpos específicos contra o vírus SARS-CoV-2".
No documento é feita a ressalva que a produção de anticorpos aumenta a partir do momento da infeção, podendo ser necessárias duas semanas para os detetar numa amostra de sangue através de um teste serológico, pelo que os resultados dizem respeito a pessoas que terão sido infetadas ou vacinadas até meados de fevereiro, do presente ano.
A amostra foi selecionada de forma aleatória, de forma a existir uma “distribuição análoga à do país” em termos de densidade populacional, grupo etário, sexo, agregado familiar e nível de escolaridade, sendo que a percentagem de participantes vacinados (7%) "está em linha com a percentagem nacional de vacinação no início do estudo".
Para a caracterização da amostra, desenhada em colaboração com a Pordata, base de dados gerida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, foram considerados três grupos etários (menos de 18 anos, entre os 18 e os 54 anos e 55 ou mais anos) e a densidade populacional da região de residência (baixa ou média e elevada).
De acordo com o estudo, 15% dos menores de 18 anos terão desenvolvido naturalmente anticorpos contra o SARS-CoV-2, contra 14% dos adultos entre os 18 e os 54 anos e 11% dos maiores de 55 anos. Nas duas últimas faixas etárias, a percentagem sobe, respetivamente, para 21% e 14% tendo em conta também as pessoas vacinadas.
Através da infeção natural ou incluída a vacinação, a percentagem estimada da população imune é proporcional à densidade populacional, sendo ligeiramente maior (entre 14% e 18%) em áreas de densidade alta (mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado).
Nas regiões de baixa ou média densidade populacional (menos de 60 a 500 habitantes por quilómetro quadrado), a percentagem varia entre 12% e 17%.
O início da segunda década deste século, foram anos de testagem. Prova intensa, e avassaladora aos serviços de saúde e aos seus profissionais, determinada pelo contexto pandémico. As fragilidades do sistema de saúde revelaram-se de modo mais acentuado, mas por outro lado, deu a conhecer o nível de capacidade de resposta, nomeadamente dos seus profissionais.