Estudo indica que uma em cada quatro pessoas não segue indicações de prescrição de antibióticos
DATA
30/01/2023 10:02:12
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Jornal Médico
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Estudo indica que uma em cada quatro pessoas não segue indicações de prescrição de antibióticos

Um estudo nacional, realizado pelo Grupo de Investigação e Desenvolvimento em Infeção e Sépsis (GIS-ID), com o apoio do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa, acerca do uso de antibióticos indica que um quarto da população não segue as indicações de prescrição e mais de sete em cada dez não conseguem identificar o que tomaram.

“Há um nível de falência dos tratamentos por causa disso”, referiu João Gonçalves Pereira, presidente do GIS-ID, ao alertar para a importância das pessoas “se responsabilizarem pela sua saúde”. O responsável lembra que, “quando se começa o tratamento, os sintomas diminuem, mas sem resolver infeção e, se a pessoa interrompe o tratamento, isso facilita a recidiva da infeção e essa recidiva pode ser mais complicada, porque pode aparecer sobre a forma de abcesso, implicando tratamento com medicação, mas também tratamento cirúrgico”.

Além disso, “mais importante do que a pessoa interromper precocemente é o problema de não cumprir o horário. Isto provoca uma exposição em concentrações subterapêuticas, o que facilita (…) o aparecimento de baterias, no limite, com resistências”, sublinha.

“É duplamente preocupante. Há estudos europeus que indicam que as taxas de não cumprimento podem atingir 50 ou 60%, sendo um problema transversal”, afirma o médico. Porém, “há medidas que podem ajudar a diminuir o problema como usar antibióticos de dose única diária, tentar usar mnemónicas, como juntar o medicamento ao almoço, ao jantar ou ao deitar, para que não caia no esquecimento, tendo em conta que nenhum doente deixa de tomar por maldade. É por distração, por esquecimento”, acrescenta.

O estudo mostra, ainda, que aumentou o valor (80%) dos que apenas tomam antibióticos quando prescritos pelo médico. Em 2020 era de 66% e atualmente é de 80%. “Parece haver maior adesão ao conselho médico, mas há uma grande desresponsabilização das pessoas pela sua própria saúde”, refere.

O estudo, que pretendeu avaliar o estado atual do conhecimento dos portugueses em relação ao consumo de antibióticos e o potencial impacto destes comportamentos no problema da resistência aos antimicrobiano, mostra que 77% não consegue identificar o antibiótico que toma e nem sempre quem diz saber os identifica corretamente.

Os dados revelam ainda que aumentou o número de pessoas que referem que a duração do tratamento é a informação mais importante ao ser-lhe prescrito um antibiótico, de 37% em 2020 para 52% em 2022. Sobre a importância de entregar os medicamentos que já não usa nas farmácias, apenas metade dos inquiridos disse que o faz. São principalmente as mulheres, em 30%, e 20% dos homens.

Mais de um em cada dez, isto é 14%, admitem ter antibióticos armazenados em casa e mais de metade destes (57%) diz tê-lo desde o último tratamento. Questionados sobre para que servem os antibióticos, 42% indicaram que são para infeções causadas por bactérias, valor este que aumentou face a 2020 (36%).

Quanto à consciência sobre a resistência aos antimicrobianos, 30% nunca ouviu falar - uma melhoria ligeira face a 2020, em que 34% nunca tinha ouvido falar. São sobretudo as mulheres (54%) que consideram que este é um problema de extrema relevância e, principalmente, os mais velhos (>65 anos, com 22%).

Mais de metade (54%) sabe que o consumo de antibióticos está ligado ao aparecimento da resistência aos antimicrobianos. Quem menos referiu ter conhecimento foi a faixa etária dos mais jovens (<=25 anos). Um em cada cinco disse ter conhecimento de um familiar ou amigo (18% em 2020) que já teve uma infeção por um micróbio resistente aos antibióticos e 3% confessaram que eles próprios já passaram por essa situação (4% em 2020).

O estudo envolveu 1.600 inquéritos válidos e estão representados 213 concelhos de Portugal Continental e ilhas.

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Editorial | Joana Torres
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