Os técnicos de emergência pré-hospitalar do INEM já podem realizar eletrocardiogramas na rua e administrar fármacos, sob orientação médica à distância, em casos de suspeita de enfarte. Esta medida surge no âmbito do protocolo da dor torácica, que entrou em vigor a 1 de novembro.
A toma regular da aspirina para prevenir um primeiro ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral (AVC) deve ser feita apenas por quem apresenta elevado risco cardiovascular e mediante acompanhamento médico.
Segundo dados apresentados no Congresso da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, as pessoas com sintomas de enfarte pediram ajuda mais tarde em 2020 e o tempo que levou entre a chamada de emergência e o doente ser assistido no hospital aumentou quase 20 minutos.
Colesterol e Covid-19 são os temas em destaque no webinar organizado pelo Jornal Médico, com o apoio Bial, agendado para a próxima quinta-feira, dia 30 de abril, às 21:00.
Trabalhar 55 horas ou mais por semana aumenta em 33% o risco de enfarte, quando se compara com uma jornada laboral entre 35 a 40 horas semanais, revela um estudo hoje publicado.
Com base em 17 investigações envolvendo 528.908 homens e mulheres, seguidos durante 7,2 anos, o aumento do risco de enfarte mantinha-se mesmo quando se retirava da equação o consumo de tabaco e álcool e a atividade física.
O estudo, publicado pela revista The Lancet, conclui que, em comparação com pessoas que têm uma semana regular, aqueles que trabalham entre 41 e 48 horas tinham um risco acrescido de 10%, enquanto os que trabalham entre 49 e 54 horas enfrentam um risco extra de 27%.
No caso de se trabalhar 55 horas ou mais por semana, o risco de enfarte aumenta em 33%, indica o estudo.
Uma longa semana de trabalho também aumenta o risco de doenças cardíacas coronárias em 13%, mesmo tendo em conta fatores de risco como a idade, o género e o nível socioeconómico, revela o estudo.
Os investigadores sugerem que a baixa atividade física, o elevado consumo de álcool e o stresse frequente elevam o risco.
“Os profissionais de saúde deviam estar conscientes de que trabalhar longas horas está associado a um significativo aumento do risco de enfarte e, possivelmente, também a doenças cardíacas coronárias”, pode ler-se
Quase metade dos doentes que sofreram um Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) deram entrada em serviços de urgência hospitalar sem capacidade para o tratamento mais eficaz para este ataque cardíaco, que é a angioplastia primária.
A conclusão é do inquérito anual da iniciativa Stent For Life Portugal, que foi ontem divulgado e que resultou de uma análise de todos os dados de doentes que sofreram um EAM, a qual foi realizada durante um mês.
O objectivo desta análise foi “identificar os factores que influenciaram o tratamento” do ataque cardíaco.
De acordo com os resultados do inquérito, apenas 37% dos doentes que sofreram um EAM recorrem ao Número Europeu de Emergência (112) para ter “a necessária assistência médica pré-hospitalar e o encaminhamento para o hospital adequado ao seu tratamento”.
O inquérito indica que “46% destes doentes dão entrada no serviço de urgência de hospitais que não têm capacidade para realizar uma Angioplastia Primária, o tratamento mais eficaz para o EAM”.
Os autores do documento apontam para a necessidade de melhorar, “de forma significativa, o recurso ao 112”.
“O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) dispõe de profissionais qualificados para identificar precocemente o EAM e assegurar que as várias entidades intervenientes na emergência médica pré-hospitalar transportam o doente para um hospital que disponha de unidade de hemodinâmica onde possa ser realizada a angioplastia primária”, lê-se nas conclusões do inquérito.
Os especialistas que compõem o Stent for Life Portugal – uma iniciativa da Sociedade Europeia de Cardiologia para “melhorar o acesso dos doentes à melhor terapêutica actual para o EAM” – para que a angioplastia primária possa ser eficaz é fundamental que este procedimento seja efectuado idealmente até 90 minutos após início dos sintomas.
Para Hélder Pereira, coordenador da iniciativa Stent For Life Portugal, “este atraso no tratamento dos doentes verifica-se sobretudo porque a população continua a desconhecer quais são os sintomas do enfarte”.
Nos casos em que o doente sabe quais são os sintomas, existe “uma desvalorização dos mesmos, fica-se na expectativa que não seja nada de grave e que a dor no peito acabe por desaparecer, o que significa que se perde tempo precioso para a realização do tratamento”, segundo este cardiologista.
A dor no peito é o sintoma mais comum no EAM e é muitas vezes descrita como uma sensação de pressão, aperto ou ardor.
Esta dor pode também ocorrer noutras partes do corpo (geralmente no braço esquerdo, pescoço ou queixo) e é acompanhada de falta de ar, náuseas, vómitos, batimentos cardíacos irregulares, suores, ansiedade e sensação de morte eminente.
“Logo desde o início dos sintomas é importante ligar 112 e não tentar chegar a um hospital pelos seus próprios meios ou com a ajuda de familiares”, aconselha Hélder Pereira.
As doenças cardiovasculares, como o EAM, continuam a ser uma das principais causas de morte em Portugal.
Cientistas espanhóis desenvolveram uma técnica que analisa, por ressonância magnética nuclear, as partículas de sangue que contêm colesterol, triglicerídeos e outros lípidos, conhecidos como lipoproteínas, num método que possibilita detectar um enfarte.
Esta investigação é um dos temas que concentra o interesse dos 400 cientistas que participam no XXVIII Congresso Nacional da Sociedade Espanhola de Arteriosclerose, a decorrer desde terça-feira em Logronho, Espanha, e que termina na sexta-feira.
Segundo Luis Masana, catedrático de medicina na Universidade Rovira e Virgili, de Tarragona, esta nova técnica apresenta “muitas vantagens” no que diz respeito aos parâmetros utilizados actualmente pelos médicos para caracterizar o risco de enfarte ou cardiovascular dos pacientes, noticia a agência Efe.
Luis Masana afirmou que esta tecnologia, que possibilita mais do que a simples medição do colesterol, estava implantada há muitos anos no Japão e em Nova Iorque, mas que agora foi melhorada do ponto de vista tecnológico.
O colesterol, afirmou Luis Masana, "não depende só das suas concentrações, mas também da forma como se agrega ao plasma", originando as lipoproteínas, que "podem variar em tamanho, concentração e forma", acrescentando que, "até agora não era possível determinar estas particularidades" e que com esta nova técnica obtém-se uma visão mais ampla e, sobretudo, há uma melhoria da detecção do risco cardiovascular num paciente.
Durante o congresso, Masana, destacou ainda a oportunidade que os médicos têm de utilizar esta técnica, que “não é excessivamente cara”, é muito prática e dá uma imagem clara do que ocorre com a gordura do sangue.
Durante o congresso trataram-se diferentes aspectos relacionados com a arteriosclerose, que se origina quando o excesso de colesterol que circula no sangue tende a depositar-se nas paredes das artérias, explicou à Efe o presidente do comité organizador deste encontro científico, Ángel Bre, referindo que, em função da localização das artérias afectadas, esta doença origina variados problemas, como, por exemplo, anginas de peito, enfartes do miocárdio, tromboses cerebrais, doença arterial periférica, aneurisma aórtico, isquemia intestinal, entre outros.
Apenas 8% dos doentes portugueses com enfarte têm acesso a programas de reabilitação cardíaca, importantes para reduzir a mortalidade, ficando bem abaixo da média europeia, que se situa entre 30 a 50%.
As desigualdades na saúde cardiovascular nos países europeus são precisamente o tema central de um congresso que junta a partir de hoje em Lisboa cerca de 1.500 especialistas de vários países.
Em entrevista à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Miguel Mendes, explicou que Portugal está, ao nível da mortalidade cardiovascular, “a meio da tabela” entre os países europeus.
Os países mais ricos são os que têm melhores resultados em termos de sobrevivência, os da bacia mediterrânea gozam de uma certa protecção pelo estilo de vida e dieta, enquanto os países da Europa de Leste apresentam a mortalidade mais elevada.
Relativamente a Portugal, a mortalidade cardiovascular tem-se reduzido nos últimos anos, embora o cardiologista sublinhe que só há estatísticas conhecidas até 2012.
Apesar desta redução da mortalidade ser positiva, Miguel Mendes considera que o país ainda precisa de se organizar melhor para “dar respostas mais correctas”, sendo também necessário melhorar a educação da população quanto à doença cardiovascular e à correcta forma de entrada no sistema – que deve ser feita através do 112 e não por deslocação por meios próprios às urgências.
Quanto ao que é necessário melhorar no sistema de saúde, o presidente da Sociedade de Cardiologia defende uma aposta na reabilitação cardíaca, só cumprida em Portugal por 8% dos doentes, quando há países europeus que chegam a atingir os 90%.
“O tratamento do enfarte agudo do miocárdio é, de facto, muito importante nas primeiras horas e aqui os serviços estão relativamente organizados e temos um sistema que funciona bastante bem. No internamento temos respostas boas. À saída do internamento é que já não estamos em padrões europeus, que tem a ver com a reabilitação cardíaca, um programa de acompanhamento e educação dos doentes”, afirmou Miguel Mendes.
A reabilitação cardíaca permite reduzir a mortalidade em cerca de 25%, dado que no primeiro ano após um enfarte tratado há ainda risco de problemas ou complicações.
A reabilitação é um programa de dois a três meses que integra exercício físico e educação do doente e da família em relação aos factores de risco: como controlo do stress, alimentação, eventual adaptação da vida profissional ou retoma da actividade sexual.
No Serviço Nacional de Saúde, apenas existem programas de reabilitação cardíaca nos grandes hospitais do Porto, em Faro e um outro de dimensão reduzida no hospital de Santa Marta, em Lisboa.
“Precisamos de montar uma resposta, sobretudo na zona sul do país”, refere Miguel Mendes, embora reconheça que no Minho e na zona das Beiras não há também qualquer resposta hospitalar ao nível da reabilitação.
Os cerca de 1.500 especialistas que estão reunidos até sábado em Lisboa, no encontro promovido pela Associação Europeia de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular, vão debater instrumentos para reduzir a incidência da doença cardiovascular, que ainda é a principal causa de morte no mundo Ocidental, bem como discutir estratégias para fomentar na população um estilo de vida saudável e formas de cada país reduzir os factores de risco para a doença coronária.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.