A situação com as urgências no país são a ponta do iceberg dos inúmeros problemas da Saúde em Portugal. Engana-se quem acredita que a solução se baseia apenas nelas. Na verdade, estamos agora a ver o resultado do desinvestimento consecutivo, existente nos últimos anos, nos Recursos Humanos da Saúde e na Literacia em Saúde da nossa população. Ignorar as carências de recursos humanos, fomentar a desvalorização do trabalho dos diversos profissionais de saúde, atrasar a progressão profissional, e o ritmo intensivo e acelerado de trabalho que tem sido imposto aos profissionais, associado à necessidade de realização de várias horas-extra, têm feito com que os profissionais de saúde fujam a sete pés para o setor privado. Consequentemente a afluência deste sector tem aumentado, à medida que crescem as ofertas de seguros de saúde, cada vez mais acessíveis à população. É, assim, óbvio que o desprezo pelas parcerias público-privadas não levou a saúde portuguesa a bom porto, pois o SNS não tem conseguido garantir respostas adequadas e ajustadas aos seus utentes em vários âmbitos. No que diz respeito à Medicina Geral e Familiar, os problemas anteriormente referidos são mais notórios, na medida em que os Cuidados de Saúde Primários são a porta de entrada da pessoa no SNS e, como tal, têm necessidades de médicos mais avultadas do que nos Cuidados de Saúde Secundários e Terciários. O aviso da existência deste problema que já morre de velho, passando por governos sucessivos sem que tenha sido tomada qualquer medida de prevenção. Porém, não basta dar mais médicos de família aos cidadãos. É necessário aumentar o seu conhecimento na forma de utilização dos recursos existentes no SNS, e na distinção do que é um problema agudo, urgente, ou crónico. Não quero com isto referir que devam tirar um curso de medicina, nada disso. Mas terem noções essenciais básicas já existentes em Portugal, mas que se tem vindo a perder nas últimas gerações, como por exemplo, o que é febre e o que fazer nas primeiras 24-48 horas quando se tem febre (sem outro sintoma associado). Este ponto tem falhado na educação das nossas escolas nas últimas gerações. Sou da opinião de que, à semelhança de países mais desenvolvidos, os Ministérios da Saúde e da Educação se devem juntar e refletir sobre programas escolares obrigatórios de fomentação de Literacia em Saúde, essencial para a harmonização do Sistema Nacional de Saúde em Portugal. Efetivamente, é crucial a realização de uma abordagem global de ataque ao que se passa no Sistema Nacional de Saúde. Esta deverá envolver a auscultação dos seus profissionais e utentes, correção das atuais falhas existentes, aplicação de novas medidas de atuação no Sistema, e implementação de mecanismos que permitam a avaliação periódica, de curto, médio e longo prazo, da eficiência e adequabilidade contextual dessas. É necessária uma nova forma de se pensar na Saúde. Corrigir só as falhas não chega. É urgente a existência de uma Mudança de Paradigma do funcionamento global da Saúde em Portugal!