“É difícil avaliar com exatidão aquilo que os mais novos sabem sobre o tema da contraceção”
DATA
04/10/2017 14:42:50
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Jornal Médico
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“É difícil avaliar com exatidão aquilo que os mais novos sabem sobre o tema da contraceção”

Teresa Bombas, presidente da Sociedade Portuguesa de Contraceção (SPDC), não tem dúvidas de que a abordagem ao tema da contraceção se alterou de forma positiva nos últimos 20 anos: mais informação, mais segurança.

 

Teresa Bombas 01Parece que foi ontem, mas já passaram oito anos desde que a disciplina de Educação Sexual foi introduzida com caráter de obrigatoriedade nos currículos escolares, reforçando aquilo que são as garantias do direito à saúde reprodutiva. Regulamentada pelo decreto-lei n.º 259/2000, de 17 de outubro, a referida legislação incluiu a educação sexual no ensino básico e no secundário, integrada na área da educação para a saúde da qual fazem parte, igualmente, a educação alimentar, a atividade física, a prevenção de consumos nocivos e a prevenção da violência em meio escolar.

De acordo com o estudo que a Sociedade Portuguesa de Ginecologia realizou em parceria com a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução no ano de 2005, 46% dos jovens dos 15 aos 19 anos inclusive tiveram acesso a informação sobre contraceção. Já em 2015 uma outra investigação da Sociedade Portuguesa da Contraceção e da Sociedade Portuguesa de Ginecologia avançava que 67% tiveram acesso a educação sexual. “É difícil avaliar com exatidão aquilo que os mais novos sabem sobre o tema. Mas, por exemplo, neste grupo etário o uso de contraceção aumentou (segundo os mesmos estudos) e o número de interrupções de gravidez tem diminuído desde 2011 (de acordo com os dados da Direção-Geral da Saúde).

Uma notícia publicada em abril deste ano no Jornal de Notícias indicava que seis adolescentes dão à luz todos os dias em Portugal. Nas palavras de Teresa Bombas “são sobretudo jovens em contextos socioeconómicos desfavorecidos que estão incluídas nesta realidade. Para esta situação podem contribuir cenários de precaridade económica e social, insucesso escolar, falta de informação, falta de motivação para um projeto individual de vida”.

 

Métodos contracetivos acessíveis a todas

Se tivéssemos de escolher o principal motivo de falhas na utilização de contracetivos orais seria, na opinião da representante da SPDC, o esquecimento. “O panorama nacional garante a disponibilidade de todos os métodos de contraceção modernos. A maioria destes métodos está disponível gratuitamente no SNS. A sua acessibilidade é garantida às mulheres portuguesas e às estrangeiras residentes em Portugal, legais ou ilegais, provenientes da Europa ou países com os quais Portugal tem relações diplomáticas. Em Portugal o método mais utilizado é a pilula. Obviamente, sendo o método mais utilizado, e uma vez que a eficácia depende da sua correta utilização é neste grupo de utilizadoras, seguido das utilizadoras de preservativo onde vamos encontrar mais falhas e mais gravidezes não planeadas”, explica a Dr.ª Teresa Bombas acrescentando que, nesse sentido, “os métodos de longa duração e os outros métodos não diários vêm ampliar a escolha e aumentar, tornando a opção o mais individualizada e efetiva possível”.

Contudo, e porque a decisão é sempre da mulher e/ou o casal, o papel dos profissionais de saúde informar é o de demonstrar as diferenças entre as várias opções e os seus níveis de eficácia. “As mulheres saudáveis podem usar todos os métodos de contraceção desde a menarca (primeira menstruação) até a menopausa. É evidente que existem métodos mais adequados para algumas fases da vida e é da responsabilidade do profissional de saúde orientar essa escolha”, clarifica.

 

Longa duração: como funciona?

No caso do sistema intrauterino (SIU), Teresa Bombas explica que “a aplicação é simples e decorre durante um exame ginecológico. Não necessita de anestesia, pois não traz dor. Algumas mulheres referem apenas um desconforto como se fosse uma dor menstrual, mas passageira”.

Na opinião da entrevistada, “a principal vantagem da contraceção de longa duração é a comodidade na sua utilização”. Quanto às preocupações que habitualmente surgem em torno de questões como o aumento de peso e a proteção de uma gravidez, “sendo métodos de contraceção e, por definição, utilizados na prevenção da gravidez, a grande maioria são muito efetivos nesse papel. O aumento de peso é um mito. A maioria dos métodos de contraceção não interfere nesta questão. O que sabemos é que ao fim de um ano de utilização a variação de peso não é significativa para a maioria dos métodos. No entanto, existe uma variabilidade individual na resposta às hormonas e este efeito pode surgir. Se acontecer, a mulher deve falar com o seu médico para proceder a uma modificação”.

O receio do aparecimento de tromboembolismos é algo que não surge na utilização desta opção graças à sua baixa dose hormonal. Contudo, e “quando comparamos as doses utilizadas nos anos 60 com as utilizadas hoje, a diferença não é significativa”. Procurar informação é a melhor forma de combater a disseminação deste tipo de mitos.

 

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Editorial | Joana Torres
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