A doença renal crónica (DRC) e a diabetes poderão causar em Portugal uma perda superior a 410 mil anos de vida saudável por incapacidade e um custo total, ao longo da vida, de aproximadamente 17 mil milhões de euros, revela o estudo “Evolução natural da doença renal crónica em pessoas com diabetes: custos e consequências na realidade portuguesa”, realizado pela IQVIA com o apoio da Bayer. O estudo foi apresentado no dia 9 de março, Dia Mundial do Rim, em Coimbra. O Jornal Médico esteve à conversa com Edgar Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) a propósito deste estudo e da realidade da doença no nosso país e no mundo.
A progressão da doença renal diabética do estadio inicial ao terminal conduz a uma redução significativa da esperança média de vida em cerca de 34%, assim como a um aumento substancial dos anos vividos com incapacidade e dos custos totais em cerca de 81%.
A DRC apresenta-se como “uma doença muito pouco sintomática” e, nesse sentido, o que chama a atenção “são as outras comorbidades associadas”, como é exemplo a diabetes, salienta Edgar Almeida. Os médicos devem preocupar-se em “detetar precocemente esta situação, pode fazer toda a diferença”.
De um modo geral, a análise por nível de risco da doença permite verificar que a progressão da doença está associada a piores resultados. O estudo demonstra que o aumento de risco conduz à diminuição da esperança média de vida, bem como ao aumento dos anos de vida perdidos por incapacidade e dos custos por pessoa. Considerando a totalidade da população, estima-se uma sobrevivência média de 8,62 anos, com 0,59 anos perdidos por incapacidade, e um custo médio lifetime de 24.613 euros.
A diabetes é a principal causa primária de doença renal terminal, que se estima vir a ser a quinta causa de mortalidade mundial em 2040. Segundo dados já conhecidos, mais de 90% dos doentes com doença renal em todo o mundo iniciam diálise por nefropatia diabética. “Com os números de pessoas que entram todos os anos em diálise, e quando comparamos estes números com o que se passa no resto da Europa, nós vemos que a incidência, isto é, número de casos por milhão de habitantes, é muito elevada”, destaca Edgar Almeida.
Aliás, de acordo com o estudo apresentado, entre 2015 e 2019, a probabilidade anual de morte de doentes em diálise alcançou uma média de 12,7%. Estima-se que a doença renal diabética afete 550 mil portugueses.”
Apesar destes valores “alarmantes”, o presidente da SPN manifesta a estranheza pela falta de inclusão da DRC no Plano Nacional de Saúde 20-30. “Não queremos tirar, como é óbvio, protagonismo a todas as outras doenças, como as cardiovasculares, a obesidade ou a Oncologia, mas gostaríamos de não ser esquecidos neste plano”.
Após a realização deste estudo sobre a carga e os custos da DRC em Portugal, concluiu-se que é necessário dar prioridade aos doentes e construir mais evidências clínicas, para que futuramente seja possível criar políticas públicas de saúde capazes de responder às necessidades da população.
Portanto, “a mensagem que queremos passar e aquilo que esperamos que este estudo contribua é para alertar a restante comunidade médica e a população, em geral, incentivando mudanças de atitude”, destaca.
Este que é um estudo “muito importante” avaliou a evolução natural da doença renal crónica em pessoas com diabetes, os custos e consequências na realidade portuguesa. Seguiu um modelo epidemiológico de predição de custos e consequências e foi elaborado por Margarida Borges (IQVIA Portugal), Edgar Almeida (Hospital Beatriz Ângelo), João Raposo (Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal), Luís Falcão (Hospital Beatriz Ângelo), Miguel Bigotte Vieira (Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central), Joana Matias, Gonçalo Duarte, Raquel Ascensão, João Costa e Luís Silva Miguel.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.