A Ordem dos Médicos alertou ontem para o aumento da possibilidade de erro devido às sucessivas falhas e enganos da Prescrição Eletrónica de Medicamentos (PEM), forçando os médicos a voltar à prescrição manual.
“Os médicos voltaram a ter de prescrever à mão, sem acesso ao histórico do doente e sem acesso a receitas triplas, agravando o trabalho e aumentado a possibilidade de erro”, afirmou a Ordem em comunicado.
Para a OM, “as sucessivas falhas e erros da PEM colocam em causa a segurança dos doentes no ato da emissão e renovação de receituário e, muitas vezes, impedem a sua dispensa na farmácia, obrigado os doentes ou os seus familiares a efetuarem mais deslocações e a perder tempo e dinheiro”.
“É inacreditável o número de dias em que a PEM não funciona convenientemente, provocando enormes perdas de tempo e contribuindo para a desmotivação e o desnecessário cansaço dos médicos”, adiantou a Ordem, esclarecendo que “os médicos apoiam a informatização da saúde, mas exigem que seja feita por gente competente e empenhada”.
Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), responsável pela aplicação da PEM, não fazem, segundo a Ordem dos Médicos, “ideia do desastre que representa para uma consulta médica não ter acesso à informação anterior do doente”.
Associação Nacional de USF exige explicações
A Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar fez saber, através de comunicado enviado à redação do Jornal Médico, que “as falhas frequentes e a baixa velocidade a que a PEM tem vindo a funcionar tornam desesperante o desempenho dos médicos de família de todo o país”, exigindo que “o presidente dos SPMS esclareça publicamente o que se passa e aponte uma data para os problemas estarem resolvidos”.
E vai mais longe, afirmando que “o sistema tem falhado reiteradamente este mês de setembro”, perante a ausência de “explicações oficiais dos responsáveis nacionais, Serviços Partilhados do Ministério de Saúde (SPMS)”, uma situação que coloca “em causa o acesso dos portugueses aos medicamentos, atrasam, perturbam, bloqueiam e comprometem o trabalho e o cumprimento da carta de compromisso das Unidades de Saúde Familiar (USF), contratualizada anualmente com as ARS, estando a deixar os médicos de família em total stress profissional”.
Apesar de a legislação vigente não penalizar as USF em detrimento de incumprimentos decorrentes da falta de condições de trabalho, a Associação considera que “quem estão a ser prejudicados são os utentes e os profissionais na incapacidade de dar a resposta em tempo devido”.
ANF pede audiência ao presidente dos SPMS
Já na passada segunda feira a Associação Nacional das Farmácias havia manifestado, uma vez mais, aos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) a urgência de uma solução estrutural.
Em comunicado enviado à nossa publicação, este organismo defendeu que “os SPMS devem esclarecer se consideram ‘normais dores de crescimento’ estes problemas, que se arrastam há meses. As farmácias não aceitam a sua banalização, tendo em conta os danos causados aos portugueses no acesso ao medicamento, bem como os danos económicos e reputacionais à respetiva atividade”.
Por favor faça login ou registe-se para aceder a este conteúdo
Não podemos ser indiferentes ao descontentamento dos médicos nos tempos que correm, nunca vi tantos médicos a dizerem pensar sair ou desistir do que construíram. Desde médicos de família que pensam acabar com as suas USF, por não verem vantagem em continuarem a trabalhar no sentido da melhoria contínua (e até sentirem que os desfavorece) até médicos hospitalares a querer deixar de ser diretores de serviço, sair do sistema público e/ou, até, reformar-se antecipadamente. Tudo o que foi construído parece à beira de, rapidamente, acabar.