[caption id="attachment_11851" align="alignnone" width="300"] Rui Cernadas - Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.[/caption]
Não é nossa intenção escrevinhar aqui e agora qualquer artigo científico ou monografia sobre a qualidade em saúde.
Não porque o assunto o não justificasse ou merecesse, mas tão simplesmente porque não sei o suficiente sobre o tema.
Há, de resto e para os mais interessados, vasta bibliografia, nacional e estrangeira, em torno da matéria e sob ângulos diversos, incluindo a gestão da qualidade em saúde, o modelo integrado de qualidade em saúde, a perceção dos utentes, a governação de hospitais e de cuidados de saúde primários, modernização, qualidade e inovação, indicadores de qualidade em saúde, análises de satisfação, definições de qualidade e métodos de avaliação, determinantes da qualidade, evolução do conceito de qualidade, gestão e qualidade, excelência em serviços, enfim…
Na verdade, a relação entre a prestação de cuidados de saúde, a todos os níveis de diferenciação, e a designada qualidade em saúde tornou-se quase permanente.
Pelo menos, no plano do discurso e da linguagem.
Mas temos como certo que a noção da qualidade exige o mais amplo envolvimento de toda uma organização, a qual e por isso não pode deixar de acionar e motivar todos os profissionais do sistema, apontando no sentido do encontro e da resposta às necessidades e expectativas dos cidadãos, como clientes. E em similar sentido para os profissionais.
Contudo, se se reconhece o papel e a posição chave dos utentes e cidadãos, por exemplo no caso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde são também contribuintes, e até se preconiza tal função no modelo de organização dos serviços de saúde, a medida ou avaliação da respetiva satisfação em resposta aos cuidados dispensados pode não bastar. Diria mesmo que não bastará. Ou seja, o mero exercício do direito legal de recolha da opinião do utente não chega para uma estratégia autêntica e real de modificação ou adoção de novas formulações ou enquadramentos funcionais.
A perceção da qualidade de um serviço é traduzida segundo modelos tão pessoais e personalizados que, se perguntássemos a dez pessoas, à saída duma consulta hospitalar ou de uma urgência, ou de uma unidade de saúde familiar (USF), o que é a qualidade, obteríamos como resposta outras tantas e diferentes análises ou expressões.
E é importante falar sobre isto porque, muitas vezes, o SNS assume posições contraditórias mesmo que necessárias ou indispensáveis.
De alguma forma, diria, o período histórico e social da Revolução Industrial, parece não ter atingido ainda a saúde.
De facto, a quantidade prevalece sobre a exigência de qualidade e será mais comum ouvir falar do tempo médio das consultas, do número de utentes por lista, da dimensão dos tempos de espera, da produção cirúrgica e outras, do que propriamente em metas ou indicadores qualitativos por excelência, sejam no plano organizativo ou, sobretudo, ao nível técnico e científico.
Os cuidados de saúde primários são até um exemplo disto.
O indicador relativo à medição da satisfação dos utentes, na linha da qualidade, em termos nacionais, desde a criação das USF só muito recentemente foi trabalhado e ainda assim, por amostragem.
Mas a saúde só tem “mas”.
E um deles, provavelmente dos mais fortes nesta abordagem, decorre do conceito de que a forma como um serviço é ou pode ser prestado é, assim, o aspeto fulcral a ser valorizado e percecionado pelo utente.
Provavelmente poderá vir a ser muito perigoso alimentar um rumo estratégico que não alargue responsabilidades e literacia.
Não creio, sinceramente que, a qualidade técnica e médica, neste caso, possa ser entendida facilmente pelo doente e utente.
Mas não tenho qualquer dúvida quanto ao fato de que, a Qualidade em Saúde, vai claramente para além da qualidade técnica e clínica do serviço disponibilizado…
Os últimos meses foram vividos por todos nós num contexto absolutamente anormal e inusitado.
Atravessamos tempos difíceis, onde a nossa resistência é colocada à prova em cada dia, realidade que é ainda mais vincada no caso dos médicos e restantes profissionais de saúde. Neste âmbito, os médicos de família merecem certamente uma palavra de especial apreço e reconhecimento, dado o papel absolutamente preponderante que têm vindo a desempenhar no combate à pandemia Covid-19: a esmagadora maioria dos doentes e casos suspeitos está connosco e é seguida por nós.