A falta de conhecimento ou de preparação técnica ou a demagogia, enfim, levam com frequência a que, com ou sem intenção dolosa ou irresponsável, se ouçam pedidos de reforço de recursos orçamentais para serviços públicos – como a educação ou a saúde.
Todos os dias lemos os jornais e estes pontos de vista são repetitivos.
A verdade é que se sabe bem como as ineficiências dos sistemas públicos de educação e de saúde contribuem para os desequilíbrios orçamentais do Estado e para o desvio de alocação a outros sectores produtivos da economia e do país.
E nem se trata de um argumento pessoal apressado, mas apenas a constatação documentada da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), cujos relatórios são públicos. Isto é, não falo com base numa suspeição ou de uma interpretação pessoal, ou sequer de uma hipótese. Falo da realidade… Uma realidade que se estivesse indexada a orçamentos fixos conduziria à inviabilidade ou proibição de tratamento de muitos doentes a cada ano!
Não o sendo, o buraco anual da saúde, por mais disfarces financeiros como o das cativações, imposições unilaterais de preços, adiamento de faturação ou questões sobre a mesma, só complica a vida dos ministros das finanças e a de todos nós contribuintes!
A ideia de medir ou de comparar os resultados entre as instituições do SNS pode ser louvável, mas não serve de nada, nem para nada. Os desempenhos são cada vez mais influenciados pelos fatores externos e os chamados determinantes sociais de saúde. Mas, para além disso, como não há verdadeira autonomia dos gestores nomeados pelas tutelas políticas, os resultados só servem para medir a ineficiência do sistema que cada governo perpetua, ainda que a presente bata todos os recordes centralizadores!
Valha-nos que a vontade de reformar não existe e fica-se pela criação de coordenações nacionais, de grupos de trabalho, de comissões e de mais comissões que, no limite, produzirão documentos ou planos que ficarão nas gavetas como tantos outros antecedentes…
Outro ponto interessante é o dos registos eletrónicos de saúde. Esclareçamos que já há capacidade de leitura e relacionamento entre os níveis de cuidados primários e hospitalares, mas a linguagem é muito diferente, desde logo, até pelas classificações de doenças adotadas. Nos hospitais acresce que a sigla GDH (Grupo de Diagnóstico Homogéneo) corresponde a uma forma de registo que nada tem que ver com o interesse clínico, com a preocupação assistencial ao utente doente, mas somente com os custos. É meramente uma ferramenta de faturação e de gestão, não captando nem desenhando modelos informativos sobre os resultados em saúde.
E genericamente todos os registos serão o que os seus profissionais queiram, saibam ou possam inscrever, o que releva a importância dos mesmos registos e a necessidade de formação e de informação dos operadores na saúde. Talvez disto tudo tenha resultado a redução de alguma despesa no Serviço Nacional de Saúde (SNS)… Mas, o que sabemos é que se tal aconteceu, ou quando foram feitas poupanças no SNS, nunca beneficiaram – no mínimo – as regiões, as instituições ou os serviços que se portaram bem e que apresentaram resultados e níveis de eficiência melhores!
Diz-se que a mediocridade sempre conviveu mal com quem dela se distingue. Tenho para mim que a macrocefalia da capital se tornou definitivamente patológica.
E a ser assim, estamos conversados.
Não é preciso mudar, é preciso é tratar.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.