A acupuntura é praticada na China há mais de 3000 anos, sendo um dos ramos da Medicina Tradicional Chinesa que tem ganho uma crescente aceitação entre profissionais de saúde.(1)
Esta é definida como uma técnica de inserção de agulhas e estimulação de tecidos somáticos para fins terapêuticos,(2) podendo estar associada a vários meios de estimulação como calor, pressão, eletricidade, entre outros.(3)(4)
A sua técnica tradicional consiste na inserção de agulhas que são “torcidas” manualmente para estimular terminações nervosas mecanossensíveis.(2) A eletroacupuntura recorre ao uso de estímulos elétricos aplicados nas agulhas, atuando em todos os tipos de fibras.(2) Quando comparadas as duas técnicas foi demonstrado um efeito analgésico superior com a eletroacupuntura.(2)
Os seus mecanismos de atuação foram extensivamente investigados e atualmente sabe-se que ocorre através da libertação de opióides do próprio corpo humano e aumento da sua sensibilidade(5). Segundo Hsieh et al.(2) a estimulação elétrica de baixa frequência induz um aumento nos níveis de β-endorfinas no tecido cerebral(3) e atua também nos recetores opióides específicos na medula ventrolateral.(1) A nível do córtex cerebral verifica-se que o hipotálamo e alguns núcleos desempenham um papel no efeito mediador(3) e que o efeito analgésico também decorre da desativação de áreas límbicas.(2) Por outro lado, a modulação inibitória descendente também pode ser regulada.(2)(6) Além disso, há a libertação/regulação de substâncias bioquímicas envolvidas na dor: encefalinas, serotonina, norepinefrina, GABA, oxitocina e adenosina.(3) A estimulação da substância cinzenta periaquedutal, pela electroacupuntura, leva à ativação do sistema serotoninérgico inibitório descendente, que por sua vez está ligado aos núcleos da rafe no tronco cerebral.(3) Por sua vez, a adenosina promove a inibição local das fibras nociceptivas.(2) Os Diffuse Noxious Inhibitory Controls também têm um papel importante, pois estão envolvidos nos mecanismos desta técnica.(3)
As principais indicações da acupuntura na terapêutica da dor crónica centram-se na dor nociceptiva do tipo músculo-esquelético de caráter inflamatório ou não(7), com principais benefícios na lombalgia, cervicalgia, omalgia, osteoartrite do joelho e cefaleia crónica.(4)(7)(8)(9)(10) A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que as condições cronicamente dolorosas do aparelho locomotor acompanhados de movimentos restritos das articulações são positivamente tratáveis com acupuntura se a sua intervenção cirúrgica não for necessária.(11) Há ainda efeitos positivos na dor facial crónica, nomeadamente, nas deformações craniomandibulares de origem muscular e na dor/disfunção temporo-mandibular.(11) Quanto à dor após cirurgia de coluna são detetadas algumas melhorias, embora não tão significativas.(4) Ao nível de cuidados paliativos e oncológicos há uma redução efetiva da dor e melhoria na qualidade de vida.(8)
Segundo a Norma de Orientação Clínica, da Direção-Geral da Saúde, sobre o tratamento da dor neuropática, a acupuntura/eletroacupuntura apresentam benefícios devido quer à sua ação local, quer à dos potenciais efeitos a nível segmentar e supra-segmentar, bem como ao seu efeito relaxante.(12) Porém, uma revisão da Cochrane afirma que não há evidências suficientes para apoiar ou refutar o uso de acupuntura para dor neuropática em geral, ou para qualquer condição específica de dor neuropática.(2)
No âmbito da Fibromialgia, segundo uma revisão, da Current Pain and Headache Reports, não há benefício no uso de acupuntura para melhoria da dor ou da qualidade de vida, porém dado o seu perfil benigno, não deve ser desencorajada.(13) Segundo a OMS pode ser útil, mas precisa de maior corroboração.(11)
A acupuntura apesar de algumas controvérsias, apresenta-se como uma possível terapêutica adjuvante segura e eficaz no tratamento da dor crónica, muitas vezes em contexto de opções farmacêuticas com pouca eficácia e com potenciais riscos e complicações importantes.(3)
Referências