Leia o artigo de opinião da autoria de Margarida Barbosa, do departamento de Anestesiologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, acerca da polineuropatia periférica diabética dolorosa. Saiba mais na edição 136 de Jornal Médico.
A polineuropatia periférica diabética (PPD) é a complicação crónica mais frequente em pessoas com diabetes mellitus (DM) tipo 1 ou tipo 2, podendo afetar também indivíduos pré diabéticos e jovens com diabetes.1,2 A fisiopatologia da PPD não é completamente conhecida, existindo hipóteses de etiopatogenia que envolvem mecanismos metabólicos, isquémicos e imunológicos.1,3 Apesar de ser a complicação mais frequente e precoce da diabetes (principalmente em doentes com DM2), é geralmente subdiagnosticada sendo que até 50% dos doentes poderão ser assintomáticos ou relutantes em partilhar alguns sintomas.1,2
Entre os sintomas de PPD, a dor neuropática (frequentemente severa) afeta até 30% dos doentes diabéticos, sendo, muitas vezes, difícil de gerir. Doentes com DM2 parecem apresentar maior risco de polineuropatia periférica diabética dolorosa (PPDD).1 A dor neuropática está associada a distúrbios do sono, diminuição da qualidade de vida, polifarmácia, impacto socioeconómico negativo (por exemplo, custos de saúde mais elevados, diminuição da capacidade para trabalhar ou realizar atividades diárias).1,3
PPDD: diagnóstico diferencial
A (PPDD) é um fenótipo de PPD que se desenvolve com dor e geralmente piora durante a noite e sob stress ou fadiga.3-5 A PPDD é caracterizada pela presença de dor e de sintomas sensitivos associados à lesão de pequenas fibras. Lesão esta que geralmente ocorre na fases mais iniciais da PPD, levando a que em muitos doentes, a dor neuropática e os sintomas sensitivos (espontâneos ou provocados por estímulos não dolorosos- alodinia, ou por estímulos dolorosos, hiperalgesia) precedam sintomas motores ou neurológicos.1,3 Na maioria dos doentes estes sintomas apresentam-se de forma simétrica bilateral, com a típica distribuição “meia e luva”, começando a dor por afetar as extremidades inferiores, especificamente os pés, podendo evoluir de forma distal-proximal 1,4,5
Tal como na dor neuropática o diagnóstico da PPDD é maioritariamente clínico, devendo basear-se na historia clínica, na avaliação dos sintomas e em exames clínicos e neurológicos, incluindo utilização de testes clínicos rápidos de avaliação da função de pequenas e grandes fibras, como pinprick (limiar à picada) e avaliação da sensibilidade à temperatura (pequenas fibras), e avaliação de vibração e propriocepção (grandes fibras).1,5 Tendo em conta a prevalência e consequências da PPD, importa não só melhorar o diagnóstico, como também potenciar que o mesmo aconteça o mais precocemente possível, reduzindo comorbilidades e instituindo tratamento sintomático para alívio da dor de forma precoce e atempada. 1,5 Assim a avaliação de PPD deve ser realizada anualmente: iniciar aquando diagnóstico de DM2 e iniciar após 5 anos do diagnóstico de DM1, devendo ser identificada e valorizada a presença de dor, sintomas sensitivos e descritores verbais de dor neuropática.1,5
A otimização dos valores de glicemia é fundamental no tratamento da PPDD, a prevenção de lesões cutâneas distais e de igual forma numa fase inicial a utilização de gabapentinoides e antidepressivos. A referenciação precoce para uma Unidade de Dor crónica é de crucial importância para a utilização de fármacos tópicos tais como a capsaicina.
Em resumo, o tratamento diferenciado o mais precoce possível permite que a dor seja adequadamente tratada assim como a melhoria da qualidade de vida destes doentes.
Referências
Bookshelf_NBK580224.pdf (nih.gov)
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