Dados apresentados na 184.ª reunião da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG) revelam que, na última década, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) registou uma redução de 15% no número de histerectomias no tratamento de miomas uterinos.
Fernanda Águas, Presidente da SPG, justifica o decréscimo do recurso a estas cirurgias no tratamento de miomas uterinos, referindo que “a classe médica tem acompanhado a evolução farmacológica e utilizado, cada vez mais, as diferentes opções de tratamento médico com objetivo de controlar as hemorragias uterinas anormais associadas aos miomas uterinos. Por outro lado têm surgido, de forma inovadora, novas opções medicamentosas que permitem nalguns casos evitar a histerectomia ou facilitar a realização de uma intervenção cirúrgica menos invasiva que conserve o útero da mulher”. Fernanda Águas acrescenta que “as mulheres são cada vez mais associadas a todas as decisões de modo a que possam optar pela terapêutica que vá de encontro às suas expectativas. O facto de, na nossa sociedade se assistir ao adiamento da maternidade, por vezes até à 4º década da vida, preconiza que se possam oferecer outras alternativas no tratamento dos miomas, tais como um tratamento cirúrgico conservador ou apenas tratamento médico”.
No global, a idade média das mulheres submetidas a histerectomias no CHUC aumentou (de 52 para 55 anos), sendo mais frequente nas mulheres pós-menopáusicas (de 31 para 44% das mulheres), o que revela uma atuação mais conservadora por parte dos especialistas junto das mulheres mais novas.
As histerectomias são cirurgias que consistem na remoção do útero do que resulta a ausência de menstruação e a incapacidade de engravidar. Só em 2014, os miomas uterinos foram responsáveis pela realização de 3.325 histerectomias nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), acarretando um custo superior a 2.600€ por ato cirúrgico.
Os miomas uterinos afetam cerca de 2 milhões de mulheres em Portugal e, quando sintomáticos, causam dor, hemorragias e degradam a qualidade de vida da mulher, são a principal causa de recurso a histerectomias.
O número de histerectomias (retirada do útero) em Portugal baixou 23,8 por cento na última década, em parte por solicitação das mulheres que querem preservar o seu corpo intacto e devido a uma maior sensibilização da classe médica.
De acordo com o presidente da Federação das Sociedades de Obstetrícia e Ginecologia, Daniel Pereira da Silva, que falava durante um encontro com jornalistas sobre a “Saúde da Mulher”, em 2004 foram realizadas 12.046 histerectomias e 9.294 em 2014.
“Cada vez mais mulheres têm consciência e defendem a integridade do seu corpo”, disse o médico, que dirigiu o serviço do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra.
Por outro lado, também se regista uma “maior sensibilidade da classe médica” para a preservação do útero, optando os clínicos por outras soluções, nomeadamente medicamentosas.
“Estamos mais conservadores, principalmente ao nível dos miomas que, no passado, resultavam em histerectomias”, adiantou.
A título de exemplo, Daniel Pereira da Silva referiu que o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) realizou, em 2004, 916 histerectomias e, dez anos depois, esse número baixou para as 655.
Os miomas justificaram 530 destas intervenções (em 2004) e 233 em 2014.
As histerectomias aumentaram por razões oncológicas, passando de 63 em 2004 para 78 em 2014 e devido a prolapso urogenital (de 124 para 154).
Em relação aos miomas uterinos – que atingem cerca de dois milhões de mulheres em Portugal, a maioria dos quais assintomáticos e, por isso, sem necessitar de intervenção – os tratamentos passam pela terapêutica com agonistas GnRH ou pelo acetato de ulipristal, substância que tem reduzido o tamanho dos miomas.
Este fármaco é comparticipado a 37% pelo Serviço Nacional da Saúde (SNS), sendo gratuito nos hospitais públicos.
A atual pressão que se coloca nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal é um presente envenenado para os seus utentes e profissionais de saúde.