Page 12 - JM Especial XXXII Congresso Penumologia
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Jornal Médico | EDIÇÃO ESPECIAL
SUBESPECIALIZAÇÃO EM PNEUMOLOGIA
QUANDO, COMO E PORQUÊ?
Estas são, sem dúvida, “perguntas pertinentes” com “respostas difíceis”, que a
Pneumologia portuguesa enfrenta atualmente. Fruto de um aumento exponencial do
conhecimento médico e científico, o desafio da subespecialização é hoje uma realidade,
que urge ser pensada e debatida interpares. Foi precisamente isso que os pneumologistas
reunidos no Algarve fizeram, ao cair do pano do XXXII Congresso de Pneumologia,
procurando conhecer realidades além-fronteiras, de forma a definir um rumo para a
especialidade a nível nacional.
“Subespecialização em Pneumologia: Faz Mas este não pode ser um impedimento estágios obrigatórios e opcionais e que ver-
sentido?”. Há já algum tempo que esta ques- para avançar, esclareceu o presidente do sam muitas das áreas que integram a lista/
tão ecoa na mente dos pneumologistas por- Colégio da Especialidade de Pneumologia documento da ERS”.
tugueses, na medida em que se deparam da OM, Fernando Barata, adiantando que
com um crescente e avassalador aumento “caso sejam apresentadas a esta estrutura UNIFORMIZAÇÃO A NÍVEL EUROPEU
do conhecimento técnico-científico no seio propostas de subespecialização, estas te- PRECISA-SE!
da especialidade médica que abraçaram. rão sempre que ir à aprovação do Conse-
De acordo com o presidente da Sociedade lho Nacional Executivo da OM que, a serem A nível europeu, salienta Venceslau Hespa-
Portuguesa de Pneumologia (SPP), Vences- aprovadas, deverão ter um currículo de nhol, “é preciso uniformizar os critérios de for-
lau Hespanhol, “não vale a pena escamotear candidatura à subespecialidade devida- mação no âmbito das doenças respiratórias
a questão: a subespecialização é um desafio que devem ser alvo de subespecialização”.
que veio para ficar e, como tal, tem que ser Isto porque, reforça o presidente da ERS,
objeto da nossa reflexão”. De acordo com o Guy Joos, “a Europa é uma mistura de vá-
responsável, a própria forma como decor- rias realidades, tradições e velocidades”.
reu a 32.ª edição da reunião magna dos O pneumologista belga defende que “o
pneumologistas portugueses, “esparti- curriculum base das competências do
lhada em inúmeras áreas específicas pneumologista tem que integrar e ter
da Pneumologia”, espelha a necessi- como pilar as grandes (e mais pre-
dade deste debate. A este propósito, valentes) doenças respiratórias”.
questionou, “quantos de nós senti- Na Bélgica, há apenas uma subes-
ram, ao longo dos três dias de tra- pecialização em Pneumologia: On-
balhos, que poderiam ter alguma cologia Torácica. “Estamos muito
dificuldade em abordar/tratar de- satisfeitos em ter conseguido atin-
terminada área específica abordada gir esta área de subespecialização”,
em sessões do congresso, precisa- sublinha Guy Joos.
mente porque na sua prática clínica Questionado por Venceslau Hespa-
se dedicam a outras diferentes?”. nhol sobre que caminho propõe a ERS
Esta foi a forma encontrada pelo pneu- a este respeito, o representante da es-
mologista para dar o pontapé de saída no trutura frisou que “as necessidades das
último debate do congresso, em que colegas populações a nível nacional são muito di-
de especialidade do Brasil, Estados Unidos da ferentes pelo que o ratio pneumologistas/
América, Espanha, Itália e Bélgica – bem como doentes tem que ser muito bem definido
o presidente da European Respiratory Society e equacionado”.
(ERS), Guy Joos, e o presidente do Colégio da mente elaborado e desenvolvido”. É o que A este respeito, um dos pneumologistas por-
Especialidade de Pneumologia da Ordem dos já sucede, em Portugal, com a Cardiologia tugueses presentes na assistência tomou da
Médicos (OM), Fernando Barata – marcaram e a Pediatria, que têm duas e seis subespe- palavra para salientar que “localização geo-
presença, partilhando as suas experiências e cialidades, respetivamente. E é também o gráfica no mundo, população do país, ratio
visões sobre esta candente temática. que o responsável acredita que irá acon- pneumologista/população e patologias são
tecer, a breve trecho, com a Pneumologia, determinantes major para a decisão subes-
SOBREPOSIÇÃO COM OUTRAS uma vez que a evolução em termos de co- pecialização ou não”. E, ainda, partilhar
ESPECIALIDADES É UM RISCO nhecimento nos últimos tempos “tem sido uma preocupação: “Sendo o nosso objetivo
avassaladora” e impõe este debate. Para último o de melhor servir o doente e res-
O desafio da subespecialização em Pneu- já, explica, “o que temos a nível nacional é ponder às suas necessidades, acredito que
mologia comporta, entre outros, o risco de uma excelente formação, com um grau de com a subespecialização o doente seja me-
sobreposição com outras especialidades, no- diferenciação grande e de saber em múlti- lhor servido do ponto de vista técnico, mas
meadamente na área do cancro do pulmão plas áreas, que decorre durante um perío- não sei se será melhor servido do ponto de
e da patologia do sono. do de cinco anos (60 meses), composta por vista humano…”.
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Março 2017

