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Jornal Médico   |  ENTREVISTA



         de  trabalho  dos  médicos,  refletindo-se  num
         elevado grau de desinteresse, desmotivação
         e insatisfação. Por outro lado, tornam impe-
         rativa a identificação dos médicos com níveis
         de exaustão no máximo, que precisam de ser
         ajudados e recuperados. Para este trabalho, a
         OM conta com o apoio do Ministério da Saúde.
         A fase seguinte é investir na prevenção, fo-
         mentando uma melhoria das condições de
         trabalho dos médicos.

         JM | E é aí que entra o seu slogan prin-
         cipal  de  campanha: investir  na  relação
         médico-doente,  reduzindo  a carga buro-
         crática e fazendo com que os médicos se
         sintam mais valorizados e respeitados…
         MG | Precisamente! Atualmente, os médi-
         cos têm muito pouco tempo para estar com
         o doente, a par de um excesso de burocra-
         cia,  seja  a  nível  tecnológico,  seja  a  outros
         níveis…  Os  médicos  de  família  (MF)  têm
         tantas tarefas administrativas e burocrá-
         ticas,  que  uma  parte  significativa  do  seu
         tempo – que deveria ser dedicada à ativi-
         dade assistencial, formação e investigação
         – acaba por ser dedicado a tarefas que não
         têm propriamente que ver com a Medicina.
         Agora é o tempo de resolver esta situação!
         E é por isso que tenho como bandeira do
         meu mandato o estabelecimento de tempos
         mínimos/tempos-padrão de consulta, meta
         essa que vou concretizar!
         A essência da consulta está na relação médico-
         doente, mas para isso é preciso haver tempo
         e o que proponho é que esse tempo seja fruto
         de quatro circunstâncias fundamentais e que
         seja avaliado através das seguintes medidas:
         história clínica e exame objetivo (comunica-
         ção com o doente); utilização dos sistemas
         informáticos; dúvidas a retirar acerca do
         caso clínico à nossa frente; informação clara
         ao doente sobre aquilo que lhe vamos ou não
         vamos fazer (este é um aspeto determinante!).                                   ção da  síndrome de  burnout/exaustão  dos
         É a partir destes quatro pontos-chave da con-                                   médicos e um passo importante para a me-
         sulta que vamos estabelecer tempos-padrão                                       lhoria da qualidade da Medicina. Assim, du-
         ou mínimos. E esse é um trabalho que vai ser                                    rante este ano, vamos dar estes passos, com
         feito já na primeira reunião dos colégios de es-                                a colaboração da tutela, de forma a recolo-
         pecialidade, em maio. Serão os colégios a defi-                                 car a relação médico-doente como essência
         nir estes tempos, com algumas variações, na                                     da prática da Medicina.
         medida em que nem todas as especialidades
         necessitam do mesmo tempo com o doente   Acredito que                           JM | A greve dos médicos, marcada para
         (veja-se a Psiquiatria, por exemplo).   o investimento                          os próximos dias 10 e 11, é reflexo dessa
         Definidos e apresentados publicamente os                                        insatisfação dos profissionais… Como é
         tempos mínimos de consulta, estes passa-  na relação médico-                    que a OM encara esta paralisação?
         rão a constituir-se como boas práticas e a   -doente é uma                      MG |  A OM tem acompanhado este pro-
         ter que ser cumpridos nos serviços públi-                                       cesso referente  à  greve  agendada  pelos
         cos e privados.                         forma de prevenção                      sindicatos médicos. Temos reunido com
                                                 da síndrome de                          os dirigentes sindicais, porque esta é uma
         JM | É desta forma que pretende fazer                                           situação que nos preocupa. Os médicos
         frente à crescente insatisfação e desen- burnout/exaustão dos                   têm motivos para aderir à greve. Não são
         canto  com  a  profissão  e  levar  os  médi-  médicos e um passo               motivos novos, mas que continuam sem
         cos  a  sentirem-se  mais  valorizados  e   importante para a                   solução,  pelo  que  o  seu  direito  à  greve
         respeitados,  seja  em  início  ou  em  final                                   está legitimado. Obviamente, a OM apoia-
         de carreira, seja no sector público, pri-  melhoria                             rá os médicos em todo este processo.
         vado ou social?                         da qualidade                            Acho que é possível a tutela conseguir
         MG | Acredito que o investimento na rela-                                       consensualizar  algumas  das  exigências/
         ção médico-doente é uma forma de preven- da Medicina                            questões que os sindicatos e a própria OM


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